( A Daniela é fã do NIN há mais de 15 anos e escreveu este texto especialmente para o Boo Monster Bop. Obrigada, Dani!)Year Zero, para quem mora em Marte ou não tem idéia do que é que está acontecendo pela internet, é o novo álbum anunciado pelo Nine Inch Nails -
a.k.a Trent Reznor, o homem-musical-que-é-a-banda.
Tudo começou com um discreto anúncio no
site oficial da banda onde se lia "NIN Year Zero. Abril, 17" - com um link para o
site Year Zero onde se via apenas uma página negra, com um texto em caracteres estilizados lembrando código binário, em branco: "This is the beginnig of the end".
Os fãs estavam aguardando mais um lançamento de DVD ao vivo, e o anúncio de um CD foi totalmente inesperado. A partir daí começou o enlouquecimento gradual dos fãs.
Trent Reznor, para quem não tem a mínima idéia de quem seja, é um músico que criou uma banda barulhenta no início da década de 90 chamada Nine Inch Nails. O primeiro álbum vendeu milhões de cópias, o que deu a Trent a liberdade de se livrar da gravadora e abrir seu próprio selo, Nothing. Em posse de total poder sobre sua música, ele começou a lançar um álbum mais pesado que o outro, fazendo uma música que mistura suas origens como estudante de piano clássico com sua paixão por bandas pops da década de 80 (Trent sempre foi fã confesso de David Bowie, Gary Numan e Soft Cell) e bandas gótico-punks do mesmo período (Trent também é fã de Peter Murphy, do Bauhaus). Pretty Hate Machine, o chamado "Halo 02" (o NIN não tem "albuns", tem "Halos" e "Remixes"), foi na verdade o primeiro álbum completo, o Halo 01 contém apenas uma demo, Purest Feeling - que cá entre nós, é melhor nem ouvir, não é aquela coca-cola toda, e olha que eu sou fã antiga e fiel. Uma das façanhas de Trent Reznor foi ser o responsável pelo lançamento do primeiro álbum de Marilyn Manson e, provavelmente, pela criação bizarra do visual da banda MM.
Mas não vamos contar história, tem tudo e mais um pouco sobre o NIN na
wikipedia ou na
NINWiki.
Year Zero, viralUma das coisas que começou a causar o frisson dos fãs é o fato de nunca Trent Reznor ter lançado um álbum tão rapidamente após o outro. Faz apenas 1 ano e 11 meses que o NIN lançou With Teeth, o primeiro album a ser lançado após 5 anos de silêncio. O silêncio, entretanto, pode ser explicado pelo longo período que Trent Reznor passou se desintoxicando de heroína e tratando uma depressão crônica. Trent tinha o hábito da heroína desde seus vinte e poucos anos e confessou, em entrevista à Rolling Stone, que livrar-se "dela", não foi fácil. Retornando "clean", lançou "With Teeth" - considerado pelos fãs mais antigos e radicais "pop demais" mas vendeu rapidamente e conquistou novos fãs para a banda.
The Fragile, último álbum da "era heroína", lançado em 1999, era terrivelmente visceral e melodioso. Trent Reznor vinha "reduzindo o barulho" gradualmente de album para album, somando, talvez, a experiência de criar trilhas sonoras para diretores como Oliver Stone e David Lynch e a formação de pianista clássico à linha ruidosa de seu trabalho com o NIN. "The Fragile" já mostrava a forte tendência de Trent a compor uma música única, dividida em partes, como se o Halo inteiro fosse uma sinfonia dividida em faixas.
Toda essa explicação é necessária para se chegar a Year Zero.
Year Zero é uma espécie de "ópera noise". Parece ter a estrutura de uma das tradicionais óperas rock, porque o "halo" tem tema e conta uma história. Trent Reznor mencionou no fórum do Spiral que o álbum é uma espécie de trilha sonora para um filme - só que sem o filme. Ao mesmo tempo, o álbum não é tão formal assim, porque, até onde foi possível escutar até o momento, as faixas são bem diferentes umas das outras. Dentro do universo alternativo futuro, criado por Trent, temos guerras, drogas misteriosas adicionadas à água, militares, rebeldes, opressão. Uma mistura de 1984 com Laranja Mecânica, só que, possivelmente, com alienígenas - existem algumas imagens com um vulto que está sendo chamado de "A Presença", que também aparece na
capa do álbum - e muito mais violento.
O album está sendo lançado com uma estratégia de marketing viral de primeira. Em dezembro, Trent tinha postado no fórum do fã clube oficial
The Spiral, que estava com um novo "halo" pronto, mais experimental que todos os anteriores, e considerado pelo departamento de marketing da Nothing, um álbum difícil de vender. A campanha viral parece estar sendo exatamente o que era necessário, desde que a primeira faixa - My Violent Heart - "vazou" no Valentine's Day, através de um pendrive que "apareceu" no banheiro em um dos shows - o NIN está em turné pela Europa. Até agora, duas faixas "vazaram" em pen drives - My Violent Heart e Me, I´m Not - e uma faixa foi executada em rádio - Survivalism. As três estão disponíveis para download em um
site feito por um fã.
O som é realmente indigesto, barulhento, atonal. Lembra um pouco a época do Broken/Fixed/Spiral, embora não seja tão punk, é mais elaborado, percebe-se que Trent usou todo o conhecimento musical adquirido e, digamos, "refinou" o barulho. É um som em camadas, complicado, desritmado. Não é pop como "With Teeth" nem tão complexo e elaborado como "Fragile". É mais primal e barulhento, mas é industrial-noise. Como se Trent quisesse retomar a origem rebelde e política do NIN mas adicionar tudo que ele aprendeu até hoje. Pessoalmente, ainda considero "Fragile" o ponto máximo da carreira do NIN - mas foi também o auge da heroína. Para um Trent "sóbrio", o trabalho apresenta muito mais qualidade sonora que "With Teeth".
Parece que Year Zero vai dividir os fãs. Os fãs mais antigos estão adorando, porque o som lembra o início pós-punk-industrial-hardcore do NIN de "Pretty Hate Machine" e Broken/Fixed. Os que se tornaram fãs na época do Fragile estão um pouco aborrecidos com o excesso de barulho, e acredito que os que se tornaram fãs com "With Teeth" devem ficar mais chocados ainda.
Daniela CastilhoCoordenadora Educine - Associação Cultural Educação e CinemaDiretora de Arte associada ABCine e Academia Brasileira de CinemaHave some tea?Have some art